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Primeiros passos para estudar música




Muitas pessoas gostam de música e tem interesse em aprofundar-se neste artesanato. Hoje temos várias fontes de informação disponíveis como livros, revistinhas, vídeos na internet, amigos, além do tradicional professor de música.
Escolher instrumento é o primeiro passo, não há músico que só leia livros, e é aconselhável escolher um pela paixão mesmo, afinal você ficará horas debruçado sobre ele, não se intimide pela dificuldade inicial, claro que disposição e espaço físico muitas vezes contam, se você mora em apartamento fica difícil tocar uma harpa ou uma bateria.
Se você contenta-se apenas em arranhar um violão, guitarra ou teclado, muitas vezes um amigo ou vídeo aulas são suficientes para saciar sua curiosidade, mas para quem busca um contato mais intimo e direto, e não quer sofrer tanto sozinho, o bom mesmo é procurar um professor.
Apesar do estudo de música estar associado ao lazer e entretenimento, há dois tipos de pessoas que buscam o ensino em escolas. Um que quer apenas se divertir, e outro que busca aprofundar seus conhecimentos e possivelmente se tornar um profissional na área.
Com o decorrer do curso ambos encontram a principal barreira nos tempos atuais, o tempo. Para se estudar um instrumento, seja ele o violão, piano, voz, bateria ou qualquer outro, necessita-se desenvolver a coordenação motora, a parte mecânica funcional digamos assim. E só há um jeito para isso, prática e muita repetição.
Precisa-se de tempo para praticar, tempo diário. E este não é um problema apenas de adultos que dividem sua vida pessoal com o trabalho, as crianças muitas vezes fazem um a dois cursos extracurriculares por dia, ou pela imaturidade não sabem dividir seu tempo entre deveres e lazer.
Mas há quem se dedique e consiga estudar, não às 8 horas de piano que Mozart estudava! E logo encontra muito material disponível e precisa organizar sua atenção.
Há quatro pilares importantes no estudo de música:
A parte prática do instrumento, aonde se se encontra e desenvolve sozinho as técnicas específicas, como arpejos, vibratos, fraseado, etc...
A parte em conjunto, como tocar numa banda ou orquestra. Músico que não consegue tocar bem em conjunto é como um jogador de futebol que só sabe chutar pênaltis.
A parte teórica, pois é preciso saber ler diversas formas de linguagem, como partituras, cifras, partituras gráficas, manosolfa, etc... para encontrar diversas fontes de informação. Quando estamos iniciando os estudos às partituras e cifras são um desafio a ser cumprido, depois que dominamos a leitura, elas são apenas o ponto de partida.
E a última e tão importante quanto às outras é ouvir música e adquirir repertório, deve-se ouvir de tudo e buscar sempre novas fontes de informação e inspiração.


Por Thiago Rabay

Censura Branda


Com a sociedade dos ecobobos pensando em deixar um mundo melhor para nossos filhos, estamos vivendo para filhos melhores amanhã e piores hoje.
Há uma censura branda que impera nossos sussurros, nos impede de tomar nosso drinque e fumar nosso trago em paz. Com a desculpa do mundo melhor para o outro sufocamos nossos adolescentes com excesso de informações do que e em quanto tempo nossa liberdade nos mata.
Sociedade mais que hipócrita, como o caso da assembleia legislativa da Bahia que aprovou o projeto de lei para censurar e não liberar verba a eventos que tenham música machista, e nos tempos de hoje é bom estar bem claro o que e para quem é esse machismo.
Ou como o clipe do Alexandre Pires considerado racista, alguém reparou que ele é negro, opa..., afro decente.
Se Preta Pretinha fosse lançada hoje seria considerada racista, Deus lhe Pague uma ofensa à igreja evangélica, e Ando Meio Desligado como apologia ao uso de entorpecentes.
Estamos ficando chatos e caretas, nos trancando em nossas próprias casas, elevando nossos muros, fechando o vidro para respirar o ar gelado do carro, enquanto deveríamos aproveitar e rir de nós mesmos, com a liberdade a muito lutada e agora conquistada, será então que não estamos gostando ou não deveríamos tê-la?

O Tempo e a Música




O Tempo e a Música
Thiago Rabay


A concepção comum do tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração. Por influência da teoria da relatividade, o tempo vem sendo considerado como uma quarta dimensão, usado hoje até na construção civil. Para os gregos o tempo recebia duas nomenclaturas, Chronos, termo para tempo sequencial, o qual podia ser medido, e Kairos, o tempo que não podia ser medido, apenas sentido, vivido.
Como música é uma coisa que não existe, não pode ser medida ou mensurada, a relação com o tempo está correlacionada a percepção e paciência do ouvinte, ouvir música é uma experiência metafísica. Só a música consegue trabalhar com a nossa limitada percepção consecutiva ao tempo, as outras arte que não estão ligadas ao movimento, podem ser abreviadas a uma imagem.
Claro que há a presença de Chronos na relação musical, seja na documentação fiel de uma partitura, ou o dizer em minutos paralelo ao nome da música fixado na contracapa de um disco, mas tanto a partitura quanto o calculo dos minutos não são a música.
Ouvir música é ser pego sempre de surpresas, não se pode dividir uma música em começo meio e fim, tanto que criamos até trejeitos para algumas partes de música, aquele forte refrão em que entra a banda toda vira um fechar dos olhos, aquele lindo quarteto que sobressai a orquestra é acompanhado de um balançar em pendulo do corpo, a cadência interrompida por uma pausa é um parar na respiração.
No início do século quando a tecnologia permitiu a reprodução de uma música sem a necessidade de músicos ou instrumentos, pois estava gravada, rompeu-se uma fronteira , apreciamos música de outrora, fazemos silêncio em minuetos, jantamos ao som de réquiens e não dançamos alguns boleros.
No inicio do século quando se podia apenas gravar um disco de goma-laca de 78 RPM, rotações por minuto, ou seja se tinha a limitação de cerca de 4 minutos por lado do disco havia obviamente a limitação (principalmente à música comercial) do arranjo a ser elaborado. Músicas da década de 50 raramente passam de 3 minutos, geralmente com um solo curto, muitas vezes metade do chorus, um bom exemplo é Tutti-Frutti na gravação de Elvis Presley em 1956. O surgimento do Long Play permitiu maior tempo gravação, cerca de 20 minutos por lado, o que tornou comum o lançamento de discos com 7 músicas por lado, por exemplo o 1º disco dos Beatles, Please, Please Me, de 1964.
Depois da primeira metade da década de 60 e com lançamento de discos como Freak Out, de Frank Zappa, Are You Experienced?, de Jimi Hendrix, Closed to the Edge, do Yes, The Dark Side of the Moon, do Pink Floyd e com a presença do Sargento Pimenta1, cobrindo nossos corações solitários, os discos chamados conceituais, ou seja que eram pensados como uma obra só, e não uma porção de músicas reunidas, foram tornando-se mais presentes. As músicas nestes discos, tem uma estreita relação com outras faixas e com o álbum todo, mesmo tendo cada faixa sua independência.
Obviamente que este formato de trabalho musical seguiu para as apresentações ao vivo, o Isle Wight Festival de 1970, exemplifica. Para um público de 600,000 pessoas, Miles Davis tocou o Bitches Brew2 e Emerson, Lake and Palmer, misturaram, rock, sintetizadores e Bach3, em apresentações muito mais de vanguarda do que populista.
Este conceito espacial do disco e da música, continuou sendo explorado por toda a década de 70, atento me agora ao disco Tales From the Topografic Oceans, do Yes. Este um álbum duplo contendo apenas 4 músicas, uma em cada lado do LP. As músicas não tem refrão, ou se repete uma estrofe igualmente, os arranjos e a concepção do discos, estão mais voltados a um trabalho de proporções eruditas do que a roqueiras. Lançado em dezembro de 1973 alcançou o 1º lugar em vendas no Reino Unido, e o 6º nos Estados Unidos. Como muitas obras de compositores eruditos e destaco os romancistas, o Tales From the Topografic Oceans, exige concentração, atenção e variadas audições para se compreender e começar a cantar junto, pois não se para uma música no meio para ouvir o final depois.
A relação com este tipo de obra, abre nos a percepção a Kairos, à relação do tempo vivido, onde o que se passa, não são minutos ou obrigações pois se a elas estiver atento, não ouvirá a música, o que se passa, são temas, vozes, timbres e imagens no subconsciente.
A música na era da gravação, séc.XX, seguiu a evolução da tecnologia, a cada ano descobriu-se novas e melhores formas de captação do som, reprodução, masterização e divulgação. O caminho natural a se esperar da música é que continuaria a mudar sua maneira de trabalhar com o tempo. Com a constante evolução da tecnologia rompemos a limitação do tempo físico a um disco, não há nem a necessidade do físico, e o que se produz musicalmente ainda é o limitado material vinculado a um LP. Um grupo de câmara ou orquestra, poderia gravar e lançar obras semanalmente, como uma assinatura, obras de um compositor pouco gravado, ou uma pesquisa em andamento, em tempo real, um artista popular pode facilmente pré vender seu disco, um grupo instrumental pode vender seus solos semanais com a velocidade em que conseguem faze los.
A estagnação do formato tempo e música pode representar que ainda estamos em um mesmo período histórico, já que uma das características de diferentes escolas é a relação delas com a natureza, é comum por exemplo, escolas diferentes tratarem o uso do tempo, o uso de vozes simultâneas, e até a quantidade de notas, diferente da outra, uma escola usa suas técnicas até o limite e a escola seguinte busca outro caminho, outras técnicas outra relação com o tempo e a natureza, ao invés de seguir o mesmo caminho. Um exemplo: o classicismo para o barroco; e o cool jazz para o bebop.
Só a música consegue trabalhar com a nossa limitada percepção consecutiva ao tempo, as outras arte que não estão ligadas ao movimento, podem ser abreviadas a uma imagem. A concepção comum do tempo é indicada por intervalos ou períodos de duração
Acredito que devamos buscar novas maneiras de trabalhar o tempo, já que não estamos mais limitados a um espaço físico, como uma sala de concerto, um palco, ou um disco, pois se a sociedade mostra nos novas maneiras de perceber o tempo, devemos também buscar entende-las.


1Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, disco dos Beatles de 1967.
2Bitches Brew, disco lançado por Miles Davis em 1969.
3Live At Isle Wight Festival, disco de Emerson, Lake and Palmer gravado em 1970, lançado em 1997.