Em 72 o grupo Novos Baianos era formado por Moraes Moreira, voz e violão, Paulinho Boca de Cantor, voz e pandeiro, Baby Consuelo, voz e percussão, Pepeu Gomes, guitarra, craviola e violão, Dadi, baixo, Jorginho Gomes, bateria e cavaquinho, Baixinho, bateria, bongôs e surdo, Bolacha, bongôs e Galvão na composição das letras. Os arranjos são assinados por Pepeu e Moraes, e a produção por Eustáquio Sena.
Interessante notar a capa do Acabou Chorare uma mesa suja de farinha onde espalham-se copos de plástico, pratos, talheres, panelas e um bule, que espontânea ou preparada, a foto demonstra bem a sonoridade do grupo, de despojamento e descontração, que morava junto num apartamento no Rio de Janeiro.
A brasilidade ao violão é a principal marca do disco, tendo em suas bases e introduções a levada solo como genitora, as canções Brasil Pandeiro, Swing de Campo Grande e Acabou Chorare demostram isso.
Brasil Pandeiro de Assis Valente abre o disco sendo a única regravação, todo o restante do álbum é autoral. Numa levada simples mas bem brasileira ao violão, dividida entre os destros dedos rítmicos e o polegar de Moraes. A letra é um manifesto provocativo à esquentar nossos pandeiros e iluminar nossos terreiros, também é a única em que os três cantores dividem a letra, todas as outras músicas são cantadas por apenas um de cada vez. Destaco o uso pontual e bem colocado dos contrapontos do regional, bandolim e cavaquinho, a partir da 2ª estrofe com linhas melódicas extensas cobrindo toda a estrofe sem se repetir, dando em momentos reforço ''ao molho da baiana'' e em momentos convencionando fora da letra, sem exagerar, mas criando interessante material sonoro.
A Pink Floydiana Preta Pretinha com dois acordes invertidos, G/B e D/F#, segura toda a primeira parte da música e são base de um dos mais importantes solos de Pepeu no disco. A entrada da percussão demostra apenas que a canção, tem muito ainda a dizer, apesar de repetir toda a 1ª estrofe. O coro repetindo a convidativa frase em que Moraes canta ''Abre a porta e a janela e vêm ver o sol nascer'', da música Cana Verde de Tônico e Tinoco, toma e encaminha a canção a um clima de roda.
O disco destaca-se também pelo seu lado guitarra-baixo-batera. No sambaião Tinindo,Trincando, a sincopada frase do baixo conduz a música até o refrão que surpreende com uma convenção sobre outra. Mistério do Planeta e A Menina Dança mesclam o lado acústico e elétrico, ambas com a letra do poeta Galvão, e com solos de guitarra tocados a maneira que nenhum Jimmy faria.
Jorginho Gomes compôs a única faixa instrumental, marca que seguiu grupo em todos os posteriores discos. O baião Um Bilhete para Didi, com o simples tema I e V arpejado ao cavaquinho, se enche de graça adolescente com a entrada acelerada da bateria e da guitarra. O baixo de Dadi não oferece um simples acompanhamento, numa linha em arpejos com um timbre limpo e marcado, que o caracterizou, principalmente na fase instrumental do grupo A Cor do Som.
Apesar da base do disco ser a voz e o violão, o grupo demostra ineditismo nos arranjos com o regional e com a banda elétrica, seguem a tradição de nossos gilbertos, seja o João, pelo seu lado sereno e bem claro, ou seja o Gil, pela sua peculiar maneira de assimilar as influências estrangeiras, como ambos frequentavam o apartamento em que o grupo morava fica impossível, interessante e irrelevante, dizer quem influenciou mais quem. Mas não há dúvidas de que Acabou Chorare é um Expresso Cheio de Saudade.
Músicas:
01-Brasil pandeiro
02-Preta Pretinha
03-Tinindo, Trincando
04- Swing de Campo Grande
05-Acabou Chorare
06- Mistério do Planeta
07-A Menina Dança
08-Besta é Tu
09-Um Bilhete para Didi
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